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Editorial: Democracia e antidemocracia nas redes

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Democracia é um conceito polissêmico. Diferentes e contraditórios usos e interpretações se sobrepõem umas sobre às outras. Neste mundo de disputas e desigualdades a democracia ora é uma forma de diminuir a desigualdade, ora um mecanismo para conserva-la. Neste período de globalização e velozes modernizações e inovações tecnológicas, mais se acentua esse caráter paradoxal. Contudo, mesmo com tamanha flexibilidade a democracia possui muitos adversários. Nas redes sociais se expressam toda essa caótica disputa pelos rumos da política.

A comunicação, na democracia, no autoritarismo ou em suas mediações, é chave no processo de socialização e de conservação e de mudança. Os processos de Comunicação Pública envolvem temas de interesse coletivo, promovendo o diálogo, o esclarecimento, os relacionamentos necessários para qualificar a democracia e permitir a tomada de decisão e a disputa em torno de direitos e do bem comum.  Também são acionados para obscurecer o diálogo, ocultar, dissimular. Essa poderosa comunicação não é feita apenas pelo Estado em suas distintas agências, mas se constitui numa rede onde os distintos atores e suas estruturas midiáticas são chamados a participar em torno de pautas de interesse que alimentam e delimitam o debate público. Uma rede que pode selecionar os atores que irão participar desse debate público

Os novos dispositivos tecnológicos permitiram um tipo de interação, presença e conexão ainda não experimentado no mundo. Nunca, na história da humanidade, a emissão da “palavra” teria tido tal alcance, tamanha amplitude, extensa oferta e horizontalidade. Mas essa nova realidade tecnológica, ética e estética não necessariamente vem garantindo os ganhos imaginados. A ideia de simetria, de transparência, de pluralidade, de oportunidade para vozes periféricas e, portanto, para a devida orientação do debate, não se realiza nestes tempos de oferta ilimitada e sem controle. As assimetrias permanecem, a opacidade dos processos se intensifica e o ambiente propício à desordem informacional permite o surgimento de fatores altamente nocivos à saúde de um regime democrático já em crise. Nesse lócus informacional vertiginoso, caótico e pouco transparente circulam novos fluxos e novos modos de formação da opinião, transformando dinâmicas simbólicas de discussão política, muitas vezes sustentadas em versões que dispensam a verdade factual, em simulacros vazios e descartáveis, com consumo voraz e tempos exíguos. O reflexo dessas novas realidades informacionais se dá na disputa em torno de direitos, na capacidade dos portadores das demandas do mercado e suas necessidades em tempos de colapso da acumulação, e na teimosa resistência do campo progressista.

É nesse cenário que esta 8ª Edição do DDF se debruça. Nesta publicação vamos discutir a importância da memória da comunicação empreendida nos ambientes digitais públicos, compreender como valores morais e apelos religiosos são acessados para dar fôlego a um governo perverso e ineficaz, conhecer modos de resistência e combate nas trincheiras das redes que são concebidos e sustentados por ativistas e cidadãos, identificar as novas dimensões da socialização da política, da juventude e da sociedade, entender como pode ser formada uma rede de combate à desinformação e quais as medidas para otimizar seu alcance.

Este conjunto de reflexões parte de diferentes perfis, de pesquisadores, estudantes, ativistas, especialistas preocupados em destrinchar diferentes aspectos, novas perspectivas capazes de ajudar na disputa que, independente da sofisticação tecnológica, nos empurra: a garantia dos direitos, a promoção da equidade, o legado do humanismo. Que estas leituras sejam trend topic e muito compartilhadas!