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A cultura política do fascismo

EDITORIAL

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O fascismo é uma experiência histórica, concreta e material. Como experiência é constituída de conceitos e de uma estética. Contudo, a relação entre palavras e coisas é complexa. Uma mesma palavra pode reunir mais de um significado. Mas há um sentido comum que permite distinguir e definir fascismo. São movimentos políticos de extrema direita que se caracterizam por seu sentido anticomunista, a devoção a um líder e o desprezo ao pensamento liberal democrático, sem deixar, no entanto, de ser pró-capitalista. São movimentos políticos que emergem nos períodos graves de crise capitalista para garantir a manutenção deste modo de produção. Em troca, alçam à condição de fração dirigente para reorganizar as relações de poder das classes capitalistas sobre o Estado e a apropriação dos recursos originários do seu sistema de exploração.

Via de regra, o fascismo emerge como contragolpe ao crescimento dos movimentos operários, aos movimentos socialistas e, até mesmo, ao avanço do Estado social. Trata-se de uma resposta extremamente particularista ao sentido universalista das lutas democráticas e igualitaristas do século XX e XXI.

Antes de mais nada, o fascismo é um ativismo militante contra a perda de privilégios e status dos de cima e o avanço econômico e, fundamentalmente político, dos de baixo. Mesmo num status subalterno, como no caso dos países periféricos onde suas elites econômicas e sua classe média são altamente dependentes, trata-se de uma luta pela manutenção da ordem hegemônica.

Nestes casos, há uma construção ideológica de responsabilização da ideia de direitos e da democracia, ou seja, da alteração da hierarquia tradicional como o patriarcado e a superioridade étnica. Disso se alimenta o neofascismo neste século XXI. Uma nova apresentação estética do fascismo mais vinculada aos valores neoliberais do que o fascismo clássico do século XX.

A estética do fascismo é a expressão do esforço para fazer retroceder a história, um “voltar para trás”. Obviamente, essa restauração é impossível. Como a história da humanidade é a história da luta de classe, simplesmente restaurar torna-se um ativo ideológico, através do qual se organiza uma grande fatia da classe trabalhadora desgastada pelo desalento. A hegemonia neoliberal e a ideologia neofascista transformam o algoz em herói. Transformam os avanços civilizatórios dos direitos humanos e da igualdade em responsáveis pelo desmoronamento das condições de vida e das esperanças.

O bolsonarismo se caracteriza por esse esforço reacionário para garantir os privilégios dos mais ricos. O que é feito através desta estética antimodernidade, antiuniversalidade. Sua condescendência com os novos esquadrões da morte, as milícias, o incentivo à violência policial como afirmação corporativa e o anticomunismo tomado como patriotismo é transformado em uma estética de líder antissistema, o famoso “contra tudo que está aí”. Este sentido de crítica anti sistema, porém reacionário, é que estabelece pontes do neofascismo com os trabalhadores empobrecidos, no Brasil e no mundo.

Na sua sétima edição, o Democracia e Direitos Fundamentais aprofunda a análise sobre o fascismo e apresenta artigos que abordam suas origens, consequências e a sua relação estrutural com o capitalismo.  Nas próximas semanas, vamos produzir diversos materiais relacionados com o tema. Acompanhe, comente e participe dos debates desta edição.

Boa leitura!

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